Há várias versões de uma lenda indiana, sobre seis, noutras versões sete cegos e um elefante. Assim como tantas outras parábolas milenares, a lição moral permanece moderna. Pode ser interpretada e aplicada a diversos conceitos e situações actuais.
Mas esta versão parece a mais antiga: Buda encontrava-se no bosque de Jeta, quando chegaram numerosos filósofos de diferentes escolas e tendências religiosas. Então chegaram as controvérsias:
- O mundo é eterno. Isso é certo e tudo o mais é um engano.
Outros asseguravam:
- O mundo não é eterno e esta é a única verdade.
Uns diziam que o mundo era infinito e outros que não. Estes, que o corpo e a alma são o mesmo. E aqueles, que são duas realidades diferentes. Alguns, que a alma tem existência depois da morte e outros que carece de tal. E assim, cada um sustentava seus pontos de vista, na convicção de que os seus eram os verdadeiros e os demais eram falsos.
Assim passavam seu tempo em resistentes polémicas e inclusive chegavam à indignação e ao insulto. Tudo foi ouvido e visto por um grupo de monges que relataram a Buda o acontecido. Este comentou:
Monges, esses filósofos são cegos que não vêem. Agora vos contarei um acontecimento dos tempos antigos. Havia um rajá que mandou reunir a todos os cegos que havia em Savathi e pediu que lhes pusessem um elefante. Assim se fez. Se lhes pediu aos cegos que tocassem no elefante. Um tocou a trompa, outro o culmino, outro a pata, outro a cabeça e assim sucessivamente. Depois, o rajá perguntou aos cegos:
- Que lhes pareceu o elefante que tocaram?
- Um elefante se parece a um cachorro - asseguraram os que haviam tocado a cabeça.
- É como um cesto de aventar - contestaram os que haviam palpado a orelha.
- É uma grade de arado - sentenciaram os que haviam tocado o culmino.
- É um granito - insistiram os que tocaram o corpo.
E assim, cada um, empenhado em sua crença, discutia e brigava com os demais.
A experiência das coisas que cada homem pode ter é sempre limitada. Por isso, a sensatez obriga a levar em conta também as experiências dos outros para se chegar a uma síntese.
A pessoa, o ser humano, apresenta muitas facetas. Existe o risco de polarizar a atenção em algumas delas, ignorando o resto. Fazendo isso, estaríamos repetindo os cegos da parábola. Cada um ficaria com uma visão unilateral e parcial.
Para obtermos uma visão o mais integral possível do que é uma pessoa, devemos reunir, numa unidade, os numerosos aspectos que podem ser observados no ser humano. É o que devemos tentar fazer, cientes, porém, de que uma visão completa, como diria o príncipe indiano, é sempre impossível
PROF. KIBER SITHERC
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